Andréa Martinsé contra os preços cobrados pelas agremiações para desfilar na Sapucaí
Foto: Daniel Ramalho/Terra
Foto: Daniel Ramalho/Terra
"Assim o cobrador não consegue trabalhar, para com isso, mulata”, gritava o trocador de passagens, com a van parada, já complicando o trânsito em plena avenida Atlântica, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Tudo por causa dela: Andréa Martins, a musa do Carnaval carioca, que resolveu fazer um protesto diferente no calçadão da praia mais famosa do Brasil, na tarde desta terça-feira (15).
Andrea, que já foi musa por dois anos seguidos da escola de samba Renascer de Jacarepaguá, está inconformada com os preços cobrados pelas agremiações para que ela possa desfilar na Sapucaí, dentro do Grupo Especial. E com o corpo pintado com as famosas curvas em preto e branco desenhadas no calçadão por Roberto Burle Marx, e maquiadas pelo profissional Jorge Abreu, chamou a atenção de quem passava pela orla.
“Estou decepcionada, muito magoada mesmo. Estou há 16 anos desfilando e dessa vez vou ficar fora do Carnaval da minha cidade”, reclamou. Carioca e moradora de Bonsucesso, a professora de dança e mulata do grupo Batuque do Samba afirmou ainda que não tem os R$ 30 mil que, segundo ela, estão sendo cobrados pelas escolas para que ela tenha o posto de musa assegurado. Ela não revela os nomes das agremiações que estariam pedindo o cachê.
“Não tenho condições de bancar isso. Sou uma sambista de verdade e vou ficar de fora do Carnaval. Eu tenho uma história dentro do samba, não pode ser dessa forma”, repetiu. “Já cobram o posto de rainha da bateria também (especula-se que em torno de R$ 50 mil), daqui a pouco estão pedindo dinheiro para as passistas também”, completou.
Andrea conta que as escolas de samba do Rio de Janeiro deveriam seguir o exemplo das agremiações de São Paulo. Pelo segundo ano seguido, ela será a musa do Carnaval paulista pela Águias de Ouro, para onde viaja nesta quinta-feira (17) para participar de seu primeiro ensaio técnico. “Os paulistanos me receberam muito bem, não cobraram nada, e ainda deram a minha roupa. Deveria mudar isso no Rio de Janeiro. Não tenho patrocínio, faço porque gosto mesmo”, disse.
Alheio a qualquer tipo de protesto, reclamações, seja lá o que for, o suíço Julien Fosserat, de férias no Rio de Janeiro, tentava levantar o seu queixo, quase que paralisado. “Ela está pelada mesmo”, perguntou para a reportagem, que explicou sobre a tinta no corpo da mulata. “Nunca vi isso na vida, os seios dela são grandes demais”, se exaltou.
O vendedor de mate, água e cerveja parou tudo o que estava fazendo. “Deu uma animada na praia, né. Nem estava muito sol, estava chato, e agora me chega essa mulata. Está bem desenhado no corpo dela”, brincou o ambulante José Maria da Silva. Em frente, sem medo de tomar multa, o taxista Celso Rodrigues encostou o carro na orla, ligou o pisca alerta e ficou ali, “apreciando a natureza”, como definiu. “Passei na hora certa, pode dar multa, não vou sair daqui, não”, completou, confiante no que estava fazendo.
