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Clientes de restaurante que expulsou criança negra serão ouvidos


Polícia quer saber quem estava no local quando menino foi retirado.
Caso aconteceu em SP; menino negro foi adotado por espanhóis na Etiópia.

Juliana CardilliDo G1 SP
A Polícia Civil quer saber quem eram os clientes e funcionários que estavam no restaurante Nonno Paolo, no bairro do Paraíso, Zona Sul de São Paulo, no momento em que um casal de espanhóis relatou que seu filho de 6 anos foi expulso na sexta-feira (30). O menino é negro e foi adotado há dois anos na Etiópia. Segundo o casal, o menino disse que um senhor o colocou para fora do estabelecimento. O advogado do restaurante alega que o menino saiu espontaneamente após ser abordado pelo proprietário. A criança foi encontrada pela família a um quarteirão do local.
A mãe do menino, que quis ser identificada apenas como Cristina, de 42 anos, procurou o 36º Distrito Policial, no Paraíso, e registrou um boletim de ocorrência. No mesmo dia a mulher prestou depoimento. O delegado Márcio de Castro Nilsson, titular da delegacia, instaurou um inquérito nesta segunda-feira (2), e deve ouvir outras pessoas para apurar se houve preconceito de raça ou cor.
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“Ainda não dá para dizer que é preconceito. Quero apurar os fatos. Em um primeiro momento, pelo menos um constrangimento ilegal houve. Mas em que circunstâncias é preciso apurar, e até quem cometeu”, afirmou o delegado na manhã desta terça-feira (3). Por enquanto, o caso não deve ser encaminhado para a Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

Outros depoimentos ainda não foram marcados – o advogado do restaurante, José Eduardo da Cruz, esteve na delegacia nesta manhã para se inteirar sobre os fatos do inquérito e disse estar à disposição da polícia. O advogado do Nonno Paolo reconhece que o dono do estabelecimento abordou a criança, mas nega que tenha havido racismo.

"Ele [o dono] se dirigiu ao garoto e ele não respondeu. Ele imaginou que fosse mais um dos meninos de rua da feira, e a criança saiu do local espontaneamente. Em hipótese alguma houve racismo", disse. Funcionários do restaurante ouvidos pelo G1 confirmam que o dono do local colocou o garoto para fora do estabelecimento.
Os espanhóis contam que foram se servir no bufê e deixaram o menino na mesa. O gerente do restaurante, porém, garante que houve um desencontro entre o menino e seus pais. “O menino saiu procurando os pais dele. Mas ele foi para o lado errado. Os pais estavam de um lado e ele foi para outro”, disse José Eduardo Fernandes Neto.

FamíliaA família do menino, que chegou ao Brasil no dia 17 de dezembro e voltou para a Espanha nesta segunda, disse estar muito abalada. "Foi um desespero, a primeira coisa que eu pensei foi que alguém havia levado ele embora [o menino] e que não iríamos vê-lo nunca mais", disse a mãe, técnica de administração acadêmica na Universidade de Barcelona. A família havia ido ao Parque Ibirapuera na manhã da sexta (30) e decidiu comer no restaurante à tarde. Funcionários viram que o garoto entrou com os pais e o trataram como cliente num primeiro momento, relatou Cristina. O menino não fala português.

A tia que hospedou o casal, Aurora, afirmou que o garoto evita falar sobre o caso e que estava chorando quando foi encontrado pelos pais. "Ela [Cristina] chegou aqui chorando, com o marido. Eu voltei [ao restaurante] com ela para saber o que houve e um funcionário admitiu que havia colocado o menino para fora."

"Ele me disse 'um senhor me botou para fora', em catalão, que é a nossa língua. Perguntamos se ele estava ferido e ele disse que foi segurado pelo braço, mas não foi machucado", contou a mãe. A família estuda entrar na Justiça caso a investigação não prossiga.
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