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Por dia, 4 guerrilheiros abandonam as armas, diz governo da Colômbia


Programa desmobilizou mais de 54 mil paramilitares e integrantes das Farc.
Presidente propôs que 8 mil guerrilheiros se rendam e tenham benefícios.

Tahiane StocheroDo G1, em Bogotá - A repórter viajou a convite da Acnur
@ProfFrancesc
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um dos mais antigos grupos terroristas da América e que lutam desde 1964 para implantar o socialismo no país através de táticas de guerrilha, sequestros e assassinatos, estão perdendo em 2011 quatro guerrilheiros diariamente. Eles se entregam de forma voluntária e passam a integrar um programa federal de desmobilização, segundo o governo da Colômbia.
 
G1 esteve na Colômbia e conversou com ex-guerrilheiros que aderiram ao programa de desmobilização e também com um ex-paramilitar que integrou por quatro anos as Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC), que disputavam território com as Frac e se desmobilizaram em 2002 após um acordo com o governo federal.
Segundo o Alto-Comissariado para Reintegração, nos últimos oito anos, 54.091 criminosos se desmobilizaram na Colômbia (dados até 1º de novembro deste ano). A grande maioria, cerca de 35,3 mil, integravam as AUC.

Em novembro, após a morte do líder histórico das Farc, Alfonso Cano, o presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, fez uma convocação para que guerrilheiros renunciassem às armas. Em nota oficial, a guerrilha “rejeitou o chamado de desmobilização”, apesar do governo afirmar que cresce a procura pelo projeto. Cerca de 8 mil combatentes integram a guerrilha atualmente, dizem as Forças Armadas colombianas.

“Se eu disser que foi fácil, estarei mentindo. Resolvi fugir e me entregar depois de estar trabalhando por mais de dois anos com os guerrilheiros. Atuava nas lidas no campo, carregava armas e malas. Me disseram que eu ia ganhar dinheiro, iria trabalhar e crescer na vida. Por isso ingressei. Mas depois, percebi que era mentira. Nunca me deram nada”, diz a cantora Lida Zamira Cortês, de 26 anos, que desertou das Farc em 2007. “Para escapar, tive que fugir de um acampamento e caminhar durante dias na mata. Dois companheiros meus que tentaram também foram mortos”, acrescenta ela.
guerrilheiro farc (Foto: Tahiane Stochero/G1)Lida, ex-integrante das Farc que se desmobilizou em 2007, é cantora na Colômbia (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Em várias cidades do país foram criadas as “Casas de Paz”, espécie de albergues que recebem guerrilheiros, paramilitares e criminosos que largaram as armas e aceitam aderir ao programa de reintegração. Eles recebem assistência médica, escola, alimentação e ajuda financeira por três meses, além de orientação para o trabalho. Pelo acordo com as AUC, autorizado por lei federal em 2002, os paramilitares recebem também um atestado de “ficha limpa”.
Já para os casos dos guerrilheiros, como não há um acordo com as Farc, as deserções são tratadas de forma separada. Quem não tem antecedentes criminais ou não é procurado por participação em sequestros e assassinatos, só responde judicialmente caso esteja sendo investigado por crimes como tráfico de drogas ou porte ilegal de armas. Em alguns casos, é concedida uma pena alternativa, como serviços sociais.
 
guerrilheiro farc (Foto: Tahiane Stochero/G1)Militares do Exército de prontidão pelas ruas de Bogotá,
capital da Colômbia (Foto: Tahiane Stochero/G1)
Atuação paramilitar
Ex-atirador de elite do Exército colombiano, Marcos (nome fictício) foi recrutado em 1999 para atuar com as AUC devido a sua habilidade com armas e atuou como paramilitar por quatro anos. Era armeiro e diz que não se lembra de quantos matou até se render em 2003.

“Os confrontos com a guerrilha eram no meio da mata, a gente não percebe se acerta ou não. Aceitei o convite dos paras porque precisava de trabalho, onde eu vivia não tinha opção”, afirma.

Segundo Marcos, os paramilitares atuavam em operações conjuntas com o Exército contra as Farc. “A gente usava uniforme militar, como se fosse do Exército. Isso ainda existe hoje em algumas localidades, mas de forma subliminar, sem chamar a atenção”, diz o ex-paramilitar. Desde 2007, promotores investigam mortes suspeitas provocadas pela atuação conjunta de militares a serviço do governo e paramilitares. Cerca de 40 oficiais das Forças Armadas foram demitidos e políticos foram apontados com suposta relação com narcotraficantes, que armam os paramilitares para defender seus territórios.

“Apesar dos problemas, o programa de desarmamento e reintegração de combatentes na Colômbia é um exemplo internacional. Recentemente, representantes de grupos xiitas e sunitas do governo do Iraque estiveram aqui para conhecer o processo com a expectativa de poder implantar algo semelhante”, afirma Marcelo Pisani, chefe da missão da Organização Internacional de Migração (OIM) na Colômbia, órgão da ONU que atua em conjunto com o governo na desmobilização de grupos armados.

Uma coisa que preocupa o governo, a OIM e também a Agência da ONU para Refugiados (Acnur) são os grupos armados formados por desmobilizados, que passaram a extorquir a população em várias cidades, cometendo assaltos e assassinatos. Em resposta, o governo convocou os desmobilizados que cometeram crimes a se reintegrarem aos programas sociais até 28 de dezembro. Caso contrário, eles serão considerados foragidos da Justiça.  @ProfFrancesc
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